COORDENAÇÃO DOS INSTITUTOS DE PESQUISA
CENTRO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA
SUS SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
do Centro de Material e Noções de
Esterilização
- considerando as orientações contidas no manual “Processamento de artigos e superfícies em estabelecimentos de saúde” e ao manual “Hepatites, AIDS e herpes na prática odontológica”, publicados pelo Ministério da Saúde em 1994, e
- considerando a necessidade de padronização da relação tempo/temperatura para esterilização de artigos em estufa, resolve
Artigo 1º - A Norma Técnica sobre a organização do Centro de Material e Noções de Esterilização, aprovada pela Resolução SS-392, DE 29/6/94, fica alterada na conformidade do Anexo que faz parte integrante desta resolução.
Artigo 2º - Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação
ANEXO
Norma Técnica sobre Organização do Centro de Material e Noções de Esterilização
1. OBJETIVO
A presente Norma Técnica (NT) tem por objetivo
1.1 padronizar procedimentos técnicos pela esterilização de material médico-cirúrgico e odontológico.
1.2 estabelecer um padrão mínimo de estrutura organizacional com relação e recursos físicos, materiais humanos. Foram obedecidas normas próprias e específicas consoantes da legislação federal.
1.3 subsidiar os dirigentes dos Serviços de Saúde e os profissionais que atuam no Centro de Material – (M desenvolvendo atividades de preparo, desinfecção, esterilização e armazenamento do material médico cirúrgico e odontológico:
1.4 promover alterações na área física, na aquisição de equipamentos, no treinamento dos recursos humanos e nos procedimentos técnicos, a fim de garantir um produto final seguro para a utilização dos usuários das Unidades de Saúde.
2 – DEFINIÇÕES
Para efeitos desta Norma Técnica, considera-se:
2.1 – Área contaminada: Local destinado a receber os artigos contaminados ou sujos e executar os procedimentos de descontaminação prévia (desinfecção prévia), lavagem e secagem do material.
2.2 – Área limpa: Local onde são executados os procedimentos de desinfecção, preparo, acondicionamento, esterilização e distribuição do material.
2.3 – Artigos críticos: São todos os itens médico-cirúrgicos e odontológicos, bem como seus acessórios, utilizados em intervenções invasivas, que vão penetrar nos tecidos subepiteliais, no sistema vascular e em outros órgãos isentos de flora microbiana própria.
2.4 – Artigos semicríticos são todos os itens médico-cirúrgicos e odontológicos, bem como seus acessórios que entram em contato com a mesma íntegra.
2.5 – Artigos não críticos são todos os itens médico-cirúrgicos e odontológicos que entram em contato com a pele íntegra e os que não entram em contato com o paciente.
2.6 – Autoclave a vapor saturado sob pressão: Vasos de pressão equipados com acessórios, que possuem duas câmaras concêntricas, cilíndricas ou retangulares, separadas por um espaço (camisa), no qual é introduzido vapor. São utilizadas para esterilização de materiais.
2.7 - Autoclave a óxido de etileno: Equipamento destinado à esterilização de materiais médico-cirúrgicos e odontológicos sensíveis ao calor, utilizando o gás de óxido de etileno;
2.8 – Carcinogenicidade é a propriedade que tem uma substância de provocar alterações responsáveis pela indução do câncer.
2.9 – Centro de Material: Local destinado a recepção, descontaminação prévia, limpeza e desinfecção, preparo, esterilização, armazenamento e distribuição de materiais.
2.10 – Classificação de artigos médico-cirúrgicos e odontológicos agrupamento do material quanto ao risco potencial de transmissão de infecção para o usuário.
2.11 – Descontaminação prévia é o procedimento utilizado em artigos contaminados por matéria orgânica (sangue, pus, secreções corpóreas) para destruição de microorganismos patogênicos na forma vegetativa (não esporulada) antes de iniciar o processo de limpeza que tem por objetivo proteger as pessoas que irão proceder à limpeza desses artigos;
2.12 – Desinfecção é o processo de destruição dos microorganismos ou não, na forma vegetativa (não esporulada ) de artigos semicriticos;
2.13 – Desinfetantes: São produtos químicos que têm na sua composição substâncias microbicidas, apresentando efeito letal para microorganismos não esporulados;
2.14 – Equipamento de proteção individual: Todo o dispositivo de uso individual destinado a proteger a integridade do trabalhador tais como luvas, mascaras, avental plástico e óculos de proteção;
2.15 – Esterilização é o procedimento utilizado para a destruição de todas as formas de vida microbiana, isto é, bactérias, fungos, vírus e esporos dos artigos médico-cirúrgicos e odontológicos;
2.16 – Esterilizantes: Produtos quimícos que têm na sua composição substâncias microbícidas , apresentando efeito letal para os microorganismos esporulados;
2.17 – Estufa ou Forno de Pasteur: Câmaras ou caixas elétricas equipadas com acessórios utilizadas na esterilização de materiais, através de temperatura elevada e atmosfera seca;
2.18 – Indicadores biológicos são suspensões de microorganismos de padrões e concentrações conhecidas, apresentados em fitas ou ampolas, utilizados na monitorização dos processos de esterilização;
2.19 – Invólucro: Embalagem é qualquer acondicionamento que tem a finalidade de permitir a entrada do agente esterilizador e proteger o produto contra a entrada de microorganismos, poeira e umidade enquanto o artigo estiver armazenado;
2.20 – Limpeza consiste na lavagem, enxágüe e secagem do material. Tem por objetivo remover totalmente os detritos e sujidade dos artigos;
2.21 – Mutagenicidade é a propriedade de variação brusca de um ou mais caracteres de uma determinada espécie, que pode se tornar hereditária e caracterizar uma espécie diferente daquela que originou o indivíduo;
2.22 – Óxido de etileno é um gás incolor de alto poder virucida, bactericida e fungicida cuja formula é (211140 ) É miscivel em água, acetona, eter, benzeno e na maioria dos solventes orgânicos. Ë altamente explosivo e facilmente inflamável.
2.23 – Papel grau cirúrgico é o papel que apresenta caracteristicas fisícas, quimicas e biológicas que permitem a esterilização e manutenção de esterilidade do produto. É próprio para embalagem de artigos médico-cirúrgicos e odontológicos a serem submetidos pelo processo de esterilização;
2.24 – Toxicidade é a propriedade que tem a substância ou produto de ser tóxico ou venenoso;
3 – REQUISITOS BÁSICOS PARA O FUNCIONAMENTO DO CENTRO DE MATERIAL
3.1 –Estrutura física
O Centro de Material deve estar localizado distante da circulação do público, ser de uso restrito aos funcionários que atuam na área e próximo às unidades que segue.
As paredes e o piso devem ser de material resistente, lavável de facil limpeza, liso, sem frestas ou saliências que propiciem o acúmulo de sujidade. As janelas devem ser amplas, altas e teladas. Recomenda-se também um sistema de exaustão, ventilação e iluminação.
A disposição dos equipamentos, pias e das bancadas de trabalho, deve permitir um fluxo contínuo sem retrocesso e sem cruzamento do material limpo com o contaminado. Recomenda-se que haja uma barreira física separando a área contaminada da área limpa.
As dimensões devem ser proporcionais ao tamanho e complexidade da Unidade de Saúde Independentemente das dimensões, deve estar setorizado, em área contaminada e área limpa.
3.2 Recursos Humanos
O Centro de Material deve ser operado por pessoal capacitado para realizar as tarefas específicas, sob a supervisão de enfermeiro habilitado. A quantidade de recursos humanos, depende dos recursos materiais existentes, de estrutura física, da utilização de técnicas padronizadas e da racionalização do trabalho.
3.3 Recursos Materiais
O Centro de Material deve contar com equipamentos compatíveis com o seu tamanho, complexidade e as necessidades da Unidade de Saúde. Quanto mais automatizado, o trabalho terá maior rendimento.
À área contaminada dever conter um mínimo de pia com cuba funda e água corrente, bancada, escovas, sabão ou detergente e desinfetantes, até lavagem por ultra-som de baixa frequência e outros equipamentos que permitam a manutenção de um padrão técnico permanente, diminuição de mão-de-obra e segurança no trabalho.
À área limpa deve ser equipada com bancadas para o preparo do material armários e/ou cestos para o armazenamento e equipamento de esterilização, tais como autoclave convencional horizontal, alto vácuo e estufa. Pode contar também com seladoras automáticas para invólucros e autoclave de óxido de etileno.
3.4 Organização
Os artigos encaminhados para processamento no CMH devem obedecer uma seqüência lógica, representada pelo seguinte fluxograma:
ÁREA CONTAMINADA
(Procedimentos prévios)
RECEBIMENTO DO MATERIAL CONTAMINADO
DESCONTAMINAÇÃO PRÉVIA
(química física)
LIMPEZA DO MATERIAL
(lavagem e secagem)
ÁREA LIMPA
(Procedimentos Finais)
PREPARO
DESINFECÇÃO OU ESTERILIZAÇÃO
(física ou química) (física, química ou físico-química)
ARMAZENAMENTO
4.1 Na área contaminada
Os procedimentos na área contaminada devem ser desenvolvidos por pessoal treinado, fazendo uso do EPI e compreendem:
4.1.1 Descontaminação prévia
Os artigos contaminados com matéria orgânica (sangue, pus, secreções corpóreas) devem passar pela descontaminação prévia, através de processo físico, mecânico ou químico, que deverá ser escolhido em função das características do artigo.
O processo mecânico compreende o uso de equipamentos termo-desinfector.
O processo químico compreende a imersão total do artigo por 30 minutos em produtos químicos dos grupos do aldeídos (glutaraldeído ou formaldeído) ou dos halogênios (hipoclorito de sódio a 0,5% e estabilizado com cloreto de sódio) em recipientes de vidro ou plásticos rígido com tampa, sendo recomendado recipiente duplo um perfurado e outro sem furo. A troca da solução desinfetante deve obedecer as recomendações do fabricante.
4.1.2 Limpeza
O material deve ser escrupulosamente lavado com solução detergente ou desincrustante, manualmente em cuba de pia funda e com a ajuda de escovas, estiletes, arames e outros, ou mecanicamente através de equipamentos, tais como lavadoras de ultra-som de baixa frequência, etc. Devem ser utilizados em água corrente e enxugados por gravidade ou com tecido. Após os procedimentos de limpeza os itens não críticos estarão prontos para o armazenamento ou distribuição, os semicríticos deverão se submetidos à desinfecção e os críticos à esterilização.
4.2 Na área limpa
Para serem processados na área limpa, os artigos devem estar limpos e secos.
4.2.1 Desinfecção
Pode ser obtida por processo físico ou químico, que deve ser escolhido em função das características do artigo.
O processo físico compreende a exposição ao calor úmido através da água em ebulição por 30 minutos ou com a utilização de equipamento termo-desinfector.
O processo químico compreende a utilização de produtos químicos dos grupos aldeídos (glutaraldeídos ou formaldeídos) ou dos halogênicos (hipoclorito de sódio a 0,5% estabilizado com cloreto de sódio), em recipiente de vidro ou plástico regido com tampa, sendo recomendado recipiente duplo ou perfurado e outro sem furo. A troca da solução desinfetante deverá obedecer as recomendações do fabricante. O álcool etílico a 70% sob fricção deve ser utilizado como auxiliar na desinfecção de instrumentos clínicos, tais como olivas e diafragma de esteroscópio, otoscópio e termômetro.
4.2.2 Esterilização
Pode ser obtida por processo físico-químico ou químico. Os processos físico e físico-químico são os mais indicados, pois garantem a destruição total de todas as formas de vida microbiana. O processo químico deve ser utilizado somente quando não houver outro recurso, uma vez que, devido a inúmeras variáveis, não dá garantia total de esterilidade do material.
4.2.2.1 Processo Físico
a) Vapor Saturado Sob Pressão
É o processo que oferece maior segurança e economia. Pode ser realizado em autoclave convencional horizontal ou autoclave a alto vácuo.
A autoclave vertical é própria para laboratórios, não devendo ser utilizado para a esterilização de artigos médicos-cirúrgicos e odontológicos, pois os pacientes ficam superpostos, dificultando a drenagem do ar, retardando a penetração do vapor e não dando a secagem dos artigos, o que não garante a sua esterilização. Para o funcionamento correto da autoclave deve-se seguir o manual de instruções do fabricante e observar os valores recomendados durante todo o ciclo de esterilização.
A panela de pressão do tipo doméstico também funciona de acordo com os princípios da Autoclave convencional à 120ºC, podendo ser utilizado de acordo com a, técnica própria estabelecidos para a esterilização dos artigos médico cirúrgicos e odontológicos em unidades de menor porte.
Para facilitar a penetração e circulação do vapor e eliminação do ar no autoclave convencional horizontal, deve-se utilizar no máximo 80% da sua capacidade e no alto vácuo 10%. Dispor os pacotes maiores na parte inferior e os pequenos na parte superior do aparelho, mantendo um espaço de cerca de 3 cm entre eles, evitando que encostem nas paredes do autoclave artigos como jarros e bacias, devendo ser colocados em posição que facilite a remoção do ar e escoamento do vapor.
O período de exposição varia de acordo com o artigo, o tipo de equipamento utilizado e na temperatura em que esta regulado o aparelho. O Quadro I, a seguir, registra a temperatura e invólucro adequados para a esterilização de material em autoclave.
Os pacotes devem ser retirados da autoclave frios e secos para evitar que o vapor se condense na temperatura ambiente, criando uma pressão negativa, que aspira o ar (contaminado) do ambiente, através do invólucro.
O autoclave deve ser limpo diariamente com pano úmido e sabão neutro. A limpeza dos filtros e do purgador deve ser feito pelo técnico especializado.
QUADRO I
Esterilização do Material pelo processo de vapor saturado sob pressão (Autoclave),
De acordo com a temperatura de exposição.
| Temperatura | 120º | 130ºC | Alto Valores 132ºC | Observações |
| Material | Tempo de Exposição | |||
| Roupas | 30º | 15º | 4º | Embrulhadas em campo de tecido de algodão cru duplo |
| Escova de fibra sintéticas | 30º | 15º | 4º | Embrulhadas individualmente em papel Kraft ou campo de tecido de algodão cru duplo |
| Material de aço inox ou outro tipo de metal | 30º | 15º | 4º | Embrulhado em papel Kraft ou campo de tecido de algodão cru duplo |
| Instrumentos metálicos colocados em bandeja ou caixa metálica perfurada | 30º | 15º | 4º | Embrulhados em papel Kraft ou campo de tecido de algodão cru duplo. |
| Agulhas ocas (limpas e secas) | 30º | 15º | 4º | Montadas em tubos de vidro com tampa de algodão hidrófilo |
| Agulhas de sutura | 30º | 15º | 4º | Montadas em par e embrulhadas em papel ou campo de tecido de algodão cru duplo |
| Seringas de vidro | 30º | 15º | 4º | Desmontadas e embrulhadas individualmente em papel kraft ou campo de tecido de algodão cru duplo |
| Laminas de corte, tesouras e serras | 30º | 15º | 4º | Embrulhadas individualmente ou acondicionadas em bandeja ou caixa metálica perfurada e envolta em papel Kraft ou campo de tecido de algodão cru duplo |
| Frascos, balões de vidro, tubos de ensaio | 30º | 15º | 4º | Tampados com bucha de algodão hidrófilo e embrulhados em papel Kraft ou campo de tecido de algodão cru duplo |
| Líquidos ou frascos 756 a 210ml 500 a 2000 ml | 30º | 15º | Verificar se o liquido pode ser retirado pelo vapor não dar tempo o tempo de secagem | |
b) Calor Seco
O calor gerado em estufa elétrica (Forno de Pasteur) é de uso limitado pois sua penetração e distribuição dentro da câmara não se faz de maneira uniforme, além do que o processo requer um tempo de exposição mais prolongado e altas temperaturas, o que é inadequado para certos materiais, tais como tecido e borrachas. A estufa deve possuir um termômetro que indica a temperatura atingida no interior e um termostato responsável pela manutenção da temperatura desejada. Deve-se colocar as caixas maiores nas prateleiras superiores e as menores nas inferiores para facilitar a condução do calor sem encostá-las na parede da estufa, nem encostar o bulbo do termômetro nas caixas. Não colocar grande quantidade de material dentro das caixas, nem sobrecarregar o aparelho. Deve-se seguir o manual de instruções do fabricante o Quando II a seguir registra o tempo, temperatura e invólucro adequados para a esterilização de materiais em estufa.
Esterilização do material pelo processo de calor seco (estufa) de acordo com a temperatura de exposição.
QUADRO II
MATERIAL | TEMPERATURA | OBSERVAÇÃO | |
| 160º | 170º | ||
| Instrumental Metálico Agulhas de sutura Lâminas de corte, serras e tesouras Seringas de vidro | 120 m | 60 m | Acondicionados em caixa metálica fechada ou embrulhados em papel laminado |
| Agulhas ocas (limpas e secas) | 120 m | 60 m | Tubos de vidro com bucha de algodão hidrófobo |
| Frascos, balões de vidro, tubos de ensaio | 120 m | 60 m | Tampados com bucha de algodão hidrófobo e colocados em caixa metálica fechada |
| Vaselina líquida e óleos em geral (em camadas de 0,5cm de altura) | 120 m | 60 m | Colocados em frascos de vidro ou caixa metálica fechada |
| Gaze vaselinada (grupo de 10 gazes) | 150 m | Acondicionadas em caixa metálica fechada | |
É obtido através da ação combinada de um agente químico, o óxido de etileno (E.T.O) e o calor na forma de vapor saturado sob pressão, gerado em autoclave. Seu uso é restrito a unidades hospitalares de grande porte devido ao custo das instalações e complexidade na operacionalização.
É necessário observar com rigor as disposições contidas na Portaria Interministerial 4, de 31/07/91, as instruções do fabricante e supervisão das técnicas de manejo dos equipamentos de segurança física e ambiental, além do uso da EPI, tais como luvas de PVC, óculos de proteção, máscara com filtro químico próprio para vapores orgânicos, botas e roupas de PVC. A exposição continuada ao ETO pode provocar irritação cutânea, anemia e vômitos, além de ser carcinogênico e mutagênico.
4.2.2.3 – Processo Químico
Compreende a utilização de produtos do grupo dos aldeídos, glutaraldeídos e formaldeídos. Não é um processo de primeira escolha devido a sua toxicidade, ao tempo prolongado de exposição e a necessidade de utilização imediata do artigo, uma vez que não pode ser armazenado. Pode ser utilizado em artigos termossensíveis, tais como laparoscópio, artroscópio, ventriloscópio, artigos de nylon. teflon, e outros e na impossibilidade da utilização do calor úmido na esterilização de instrumentos metálicos, catéteres e drenos, tubos de borracha, luvas e outros.
Os artigos devem estar rigorosamente limpos, secos e desconectados para permitir a ação do produto químico e totalmente imersos na solução em recipiente de vidro ou plástico com tampa (recomenda-se recipiente duplo perfurado e outro sem furo). Não colocar metais diferentes devido a corrosão eletrolítica.
O tempo da exposição para o glutaraldeído é de 10 horas e para o formaldeído é de 18 horas.
Deve-se utilizar o EPI para o manuseio do material. Após a esterilização os artigos devem ser enxaguados abundantemente com água destilada ou soro fisiológico estéreis com técnica asséptica, utilizando-se luvas esterilizadas, máscaras e outros, devendo ser utilizados imediatamente. A troca do produto químico deverá obedecer às recomendações do fabricante.
O formaldeído pode também ser utilizado sob a forma de um polímero sólido, denominado paraformaldeído, na esterilização de artigos termossensíveis. Tem duas formas de apresentação, pastilhas ou tabletes, na concentração de 3% (3g/100cm) a 90º, com umidade relativa de 75% a 80%, durante 4 horas. Após a esterilização, os artigos devem ser enxaguados em água destilada ou soro fisiológico estéreis , utilizando a técnica asséptica. Se o material não puder ser molhado, remover o resíduo com uma compressa esterilizado em água destilada ou soro fisiológico estéreis.
4.3 – Material Técnico-Educativo
A equipe de saúde terá como material de apoio o Manual de Organização do Centro de Materiais e Noções de Esterilização, que fornecerá o conteúdo técnico para desenvolvimento das atividades em Centro de Vigilância Sanitária de Material e respectivos treinamentos.
5. NORMAS PARA AQUISIÇÃO E USO DOS PRODUTOS QUÍMICOS
Para aquisição e uso dos produtos químicos devem ser observados.
a) Adquirir somente produtos registrados no Ministério da Saúde, verificando-se em seu rótulo o número do registro emitido pela Secretaria Nacional de Vigilância – DIPROD ( Divisão de Serviços de Saúde Produtos).
b) A água sanitária de uso doméstico não deve ser utilizada na desinfecção de artigos médico-cirúrgicos e odontológicos, pois sua concentração não atende as diversas exigências de formulação para desinfetantes hospitalares determinados pelo DIPROD.
c) Produtos químicos, tais como sabões e desinfetantes, não devem ser misturados aleatoriamente entre si, pois, dependendo do tipo de carga elétrica existente na parte ativa de suas moléculas podem ser incompatíveis, o que comprometerá a ação antimicrobiana do produto.
d) O armazenamento do produto químico, deve ser em local arejado, fresco, ao abrigo da luz solar e em embalagens apropriadas
e) Produtos como hipoclorito de sódio e álcool que são adquiridos em concentrações diferentes da necessária aos procedimentos do CM, devem ser tituladas por farmacêutico ou químico com materiais e reagentes acessórios para a titulação da solução mãe. Onde não houver esses profissionais a titulação deve ser feita por pessoa treinada.
f) Os produtos diluídos por pessoa habilitada e de acordo com as indicações do fabricante, devem estar na concentração adequada. Se o produto for utilizado em concentração maior que o indicado poderá causar danos ao material e se menor, não produzirá a ação desejada.
g) O prazo de validade da solução mãe, bem como da solução diluída, de acordo com as recomendações do fabricante
h) Que a presença de matéria orgânica no hipoclorito de sódio consome o cloro disponível podendo anular a atividade antimicrobina da solução, qual deverá ser desprezada.
6. CONTROLE DA EFICÁCIA DA ESTERILIZAÇÃO
Deve ser realizada através de indicadores químicos e biológicos. Os indicadores químicos apenas comprovam a exposição do artigo ao calor, sem garantir que o mesmo esteja esterilizado, podendo ser utilizados fitas adesivas, indicadores e selos adesivos. Os indicadores biológicos são recomendados para se verificar a eficácia da esterilização.
No procedimento por calor úmido deve-se utilizar fitas de papel impregnadas com esporos visíveis de Bacillos Scherothermophilus AICC (American Type Culture Collection) 7958 ou 12980, na quantidade de 5 x 10º a 5 x 10º esporos por fita ou em ampola com 2 ml de suspensão.
Na esterilização por calor seco ou óxido de etileno é recomendado a utilização de fitas impregnadas com esporos visíveis de Bacillos Subtilis Van Niger (globigu), ATTC 9372, na quantidade de 5 x 10º esporos por fita.
6.1 Técnica para Utilização dos Indicadores Biológicos
Para utilização dos indicadores biológicos devem ser obedecidos
a) Dispor os pacotes identificados contendo as fitas impregnada ou ampolas em diferentes posições do equipamento.
b) Após a esterilização, incubar as fitas impregnadas com B. Shicarothermophilus em estufa ou banho maria 55ºC e as impregnadas com 1 Subtilis Van Niger (globigu) de 35ºC a 37ºC. Fazer a leitura diariamente durante 7 dias. As ampolas devem ser incubadas a 55ºC durante 24 a 48 horas. Após esse período se não houver crescimento a esterilização foi eficaz.
c) Esta avaliação deverá ser realizada no mínimo semanalmente ao primeiro ciclo de esterilização, sendo ideal que seja realizada diariamente.
7. ACONDIONAMENTO DO ARTIGO
O algodão cru é recomendado na textura de aproximadamente 4 fios e em campos duplos. Quando novos devem ser lavados antes do uso para eliminar amido e evitar o superaquecimento que resultará em desidratação das fibras. Na realização dos tecidos os mesmos devem ser lavados para a retirada de poeira e recomposição das fibras.
O papel Kraft deve possuir superfície regular sem zonas de maior ou menor acumulo de fibras que possam causar furos. A gramatura deve ser de 60g/m e não deve conter grande quantidade de corante ou de amido.
As lâminas de alumínio devem ter espessura de 0,025 a 0,050 m
8. ARMAZENAMENTO DO MATERIAL ESTERILIZADOR
O local de armazenamento do material deve estar limpo, seco e de acesso restrito ao pessoal envolvido nesta atividade.
Os pacotes devem permanecer íntegros, pouco manuseados e armazenados em cestos e armários, de fácil limpeza e uso exclusivo.
9. VALIDADE DA ESTERILIZAÇÃO
A esterilização do material está diretamente ligado ao seu acondicionamento e estocagem. Para se Ter certeza da validade da esterilização, deve-se realizar pesquisas das condições oferecidas em cada serviço.
Recomenda-se o prazo de 7 dias de validade para os artigos esterilizados por processo físico. Os materiais acondicionados em papel grau cirúrgico, selados pelo calor, estocados em condições ideais, permanecendo estéreis enquanto íntegros, para as esterilizações realizadas a óxido de etileno.
FUNCIONAMENTO DE GABINETE DE PODOLOGIA
Portaria CVS-11, de 16.08.93
Dispõe sobre o funcionamento dos estabelecimentos que exercem atividade de Podólogo (Pedicuro).
A Diretora Técnica do CVS, considerando que,
O risco de se contrair infecções em estabelecimentos de atendimento de podólogos está diretamente ligado à não observância de precauções universais de bio segurança;
Os meios de desinfecção e esterilização são tecnicamente acessíveis aos profissionais dos estabelecimentos de atendimento de podólogos;
É preocupação das autoridades sanitárias a determinação de medidas eficazes para o controle de doenças transmissíveis; é dever da autoridade sanitária intervir sempre que houver possibilidade de ameaça à saúde pública;
A atividade desenvolvida por esses estabelecimentos pode ocasionar danos à saúde da população;
A legislação sanitária vigente não estabelece normas para as atividades desenvolvidos nos estabelecimentos de Podologia;
Os locais onde é exercida a atividade deverão possuir dimensões e condições técnicas adequadas à função;
Finalmente, a necessidade de normatizar e padronizar em toda a rede do SUS o funcionamento dos estabelecimentos objeto desta Portaria, resolve:
Artigo 1º - O estabelecimento, agora denominado Gabinete de Podólogo (Pedicuro), além das exigências referentes a habitação e aos estabelecimentos em geral, deverá possuir:
I - área mínima total de 10 metros quadrados, com largura mínima de 2,5 metros quadrados e com área mínima de 5 metros quadrados para cada cadeira adicional;
II - piso de material liso, resistente e impermeável;
III - paredes e forros pintados de cor clara, com tinta lavável;
IV - compartimentos de atendimento separados por divisórias de no mínimo 2 metros de altura;
V - instalações sanitárias apropriadas;
VI - pia de água corrente;
VII - estufa graduada até 200 graus centígrados para esterilização.
Artigo 2º - O processo de desinfecção deverá ser realizado empregando-se solução de Hipoclorito de sódio a 1% (0.000 ppm) ou soluções de fenóis sintéticos.
Artigo 3º - O processo de esterilização deverá ser precedido, sempre, de lavagem e enxaguadura dos artigos, empregando-se posteriormente a estufa elétrica equipada com termostato, onde o material permanecerá em calor seco de 170ºC por um tempo mínimo de 120 minutos, interruptamente.
Artigo 4º - O estabelecimento deverá manter fichário atualizado à disposição da autoridade sanitária competente, contendo os seguintes dados:
I - nome
II - endereço
III - telefone
IV - data de atendimento
V - serviço realizado
VI - observações
VII - assinatura do responsável
Artigo 5º - O Gabinete Podólogo (Pedicuro) deverá possuir, no mínimo, os seguintes artigos à disposição:
I - alicate de unha - 6 unidades
II - alicate de eponíquio - 6 unidades
III - bisturis para calo - 6 unidades
IV - bisturis para calosidade - 6 unidades
V - bisturis nucleares estreitos - 6 unidades
VI - bisturis nucleares largos - 6 unidades
VII - curetas - 6 unidades
VIII - pinça ou espátula - 6 unidades
IX - bandeja com tampa para instrumental - 6 unidades
X - toalhas descartáveis
XI - lâminas para bisturi
Artigo 6º - O estabelecimento somente poderá funcionar após devidamente licenciado pela Vigilância Sanitária Regional e com a presença obrigatória do profissional responsável.
Artigo 7º - É obrigatória a afixação da licença de funcionamento em quadro próprio.
Artigo 8º - A renovação obedecerá ao estabelecido no Código Sanitário Estadual.
Artigo 9º - Os estabelecimentos objeto desta Portaria deverão adequar-se dentro do prazo máximo de 180 dias da publicação desta.
Artigo 10º - O não cumprimento desta Portaria configurará infração sanitária, capitulada na legislação vigente.
Artigo 11º - Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação.



















LER/DORT - A EPIDEMIA DA VIRADA DO SÉCULO
HISTÓRICO:
Trata-se de uma patologia que acomete as pessoas há muitos séculos.
Sinais de osteofitose marginal em ossos de punhos e joelhos foram
identificados em múmias de populações pré-hispânicas, que permaneciam de joelhos por tempo prolongado, executando movimentos de flexão e extensão dos membros superiores na atividade de moer grãos.
Em 1700, Bernardo Ramazzini, médico, hoje considerado o PAI da Medicina Ocupacional descreveu afecções músculo-esqueléticas entre os notários, escribas e secretários de príncipes, acreditava ele, ser pelo uso excessivo das mãos no trabalho de escrever e relacionou, ainda, a vida sedentária, movimento contínuo e repetitivo das mãos e atenção mental para não manchar os livros .
Essa patologia que mais tarde foi chamada de “câimbra do escrivão” ou “paralisia do escrivão”, segundo Ramazzini, era secundária a três fatores básicos que, em seu conjunto, influenciavam de maneira determinante o seu aparecimento. Eram eles: (da mesma forma que são hoje)
Sedentarismo;
Uso contínuo e repetitivo da mão em um mesmo movimento;
Grande atenção mental para não borrar a escrita.
Essa doença se caracterizava por uma sensação de parestesia dos membros superiores acompanhada por sensação de peso e fadiga nos braços, podendo, ainda, estar associada a dores cervicais e/ou lombares.
A partir deste instante, estava descrita uma nova doença, que mais tarde, por possuir sintomas comuns, foi também descrita em inúmeras outras atividades.
No ano de 1833 uma descrição de grande número de casos de trabalhadores acometidos por sintomas semelhantes aos já descritos por Ramazzini ocorreu na Inglaterra, nos anotadores do serviço britânico, sendo tal fato atribuído ao uso de uma pena de aço mais pesada.
O primeiro evento de que se tem notícia de uma atividade ser considerada como causadora de uma doença profissional devido a movimentos rápidos e repetitivos data de 1908 quando, na Inglaterra, o serviço de saúde Britânico atribuiu aos telegrafistas uma nova doença denominada de “câimbra do telegrafista”, que tinha como sintoma principal a fraqueza muscular.
Surgia, a partir deste momento, uma relação entre doença – lesão – incapacidade, sendo esta considerada pela Corte Britânica como passível de indenização.
A criação e reconhecimento do conceito de doença indenizável em meados dos anos 70/80, fez com que verdadeiras epidemias destas doenças começassem a ser descritas em todo o mundo, estando as mesmas, sempre associadas a distúrbios emocionais e insatisfação pessoal ao trabalho ou no trabalho.
Problemas de ordem emocional, associados a esta nova doença epidêmica e indenizável foram analisados pelo neurologista inglês William Gowers, que considerou estas manifestações clinicas não simplesmente como um problema ligado ao tipo de trabalho, mas sim, uma verdadeira neurose ocupacional.
Em sua análise, William Gowers descreveu que, mais do que uma simples doença, apresentavam, seus pacientes, insatisfação com o trabalho, ansiedade, problemas familiares, instabilidade emocional, revolta e dificuldade de diferenciar o que verdadeiramente sentiam, daquilo que era irreal.
Até os dias de hoje, inúmeras alterações ósteo-músculo-tendíneas são descritas como doenças secundárias a Lesões por Esforços Repetitivos (LER), sendo do conhecimento de todos, o grande número de casos de: Tendinites, Tenossinovites, Peritendinites, Capsulites, Bursites entre outros, diagnosticados como de ordem profissional. Os quadros compressivos de grupos musculares só foram enquadrados no rol das doenças descritas como LER, anos mais tarde.
Verdadeiras epidemias de doenças diagnosticadas como LER ocorreram no Japão (anos 60 a 80) e na Austrália (anos 80) onde, segundo artigo publicado no – J. Rheumatology 16 (suppl. 19): 169-174:1989 com o título Medicolegal Aspects of Fibrositis Syndrome, Littlejohn, GO, analisa os fatores determinantes no aparecimento deste grande número de casos.
Atribui ele que o grande aumento no diagnóstico desta doença ocorreu pela influência dos sindicatos, publicidade, facilidade na simulação dos sintomas e o oportunismo, associado ainda à deficiência e desconhecimento na abordagem diagnóstica da doença, e a possibilidade de um sistema de compensação financeira permissivo.
No Brasil, a partir da metade dos anos 80, os números de casos de LER têm crescido de maneira assustadora, de tal forma que o INSS em sua publicação – Doenças Relacionadas ao Trabalho – Manual de Procedimento para os Serviços de Saúde, em seu capítulo 18 página 426, descreve:
“No Brasil, o aumento da incidência de LER/DORT pode ser observado nas estatísticas do INSS de concessão de benefícios por doenças profissionais. Segundo os dados disponíveis, estes benefícios respondem por 80% dos diagnósticos que resultaram em concessão de auxílio-acidente e aposentadoria por invalidez pela previdência social em 1998. O mesmo fenômeno pode ser observado na casuística atendida nos CEREST (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador), na rede pública de serviços de Saúde (Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da Previdência Social- Nusat, 1998)”.
Abordar casos de LER, hoje internacionalmente e em todas as línguas mais conhecidas de DORT, Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho, ainda é um problema de saúde de difícil solução. O número insuficiente de médicos e equipes multidisciplinares bem preparados e com formação holística (Medicina do Trabalho + Doenças Músculo Esqueléticas + Psicofisiologia, etc) faz com que diagnósticos sejam formulados erradamente, propiciando que trabalhadores afastados por doença não profissional ou mesmo indivíduos simuladores, passem a gozar de privilégios frente a trabalhadores honestos e normais, causando uma desmotivação ao trabalho e estímulo a novos afastamentos.
SINTOMAS:
Fadiga muscular: sensação de peso e cansaço no membro afetado;
Alodínea (dor como resposta a estímulos não nocivos, que em princípio não deveriam gerar nenhum incômodo) de qualquer grupamento muscular;
Dores, formigamentos, fisgadas;
Câimbras; choques;
Inchaço;
Falta de firmeza nas mãos;
Avermelhamento da pele, Calor localizado;
Repitações (rangidos);
Dormência;
Perda de força muscular e dos reflexos;
Cisto;
Dificuldade para dormir;
Tendinite e tenossinovite dos músculos do antebraço;
Miosite/Fasciíte dos músculos lumbricais;
Tendinite do músculo bíceps;
Tendinite do supra-espinhoso;
Inflamação do pronador redondo;
Cisto gangliônico no punho;
Estresse.
Obs.: O estresse é um mecanismo normal do organismo que culmina com a secreção aumentada de alguns hormônios das glândulas supra-renais.
Este mecanismo, necessário e benéfico para o organismo, faz com que o ser humano fique mais atento e sensível diante de situações de perigo ou produtoras de tensão, colocando-o em prontidão de defesa maior para se proteger.
O estresse se torna prejudicial quando se transforma em um processo crônico, por tempo longo e sempre se repetindo. É aquele indivíduo que passa por diversas situações estressoras, freqüentemente no dia-a-dia, no trânsito, nas ruas, na profissão e em outras situações, conduzindo a manifestações doentias.
Essas manifestações se exteriorizam através de alterações orgânicas e nas perturbações psicossomáticas.
No ambiente de trabalho, algumas condições podem representar
sobrecargas causadoras do estresse: as exigências e a vigilância no trabalho, a responsabilidade sobre os outros, o ambiente físico, a segurança do emprego, entre outros.
DIAGNÓSTICO:
O diagnóstico deve ser físico e, fundamentalmente emocional com análise de base, ou seja, análise do Laudo Ambiental (qualquer que seja o ambiente a ser estudado).
Por meio de exame clínico há uma anamnese bastante direcionada.
Os exames complementares normalmente não auxiliam de forma significativa o diagnóstico.
A própria Norma Técnica do INSS a respeito das LER/DORT alerta para a ineficácia desses exames.
A ultrassonografia, quando realizada em equipamentos acima de 10 Megahertz, tem auxiliado no diagnóstico de alguns casos.
Outros aparelhos podem auxiliar o trabalho do médico, como a radiografia, a ressonância magnética, a cintilografia óssea, a tomografia computadorizada e a eletroneuromiografia.
Hoje, a psicofisiologia também auxilia na análise e reabilitação de processos iniciais de LER / DORT
A psicofisiologia estuda a base fisiológica das funções motoras especialmente no que se refere aos reflexos, à postura, ao equilíbrio, à coordenação motora e ao mecanismo de execução dos movimentos
A ciência, e particularmente a Ciência Cognitiva, reconhece que o cérebro e todas as suas estruturas são a base de todo processamento de sensações, cognições, sentimentos e movimentos.
Os mecanismos são intrinsecamente ligados e, apenas a análise multidisciplinar completa pode realmente detectar e auxiliar em determinados casos. Análises ligadas ao estudo do stress (físico, emocional).
A publicação de Rapports du Physique et du Moral de l´Homme (1796 - 1802; Relações entre o físico e a moral do homem), obra de Georges Cabanis, precursor da psicofisiologia que viveu na segunda metade do século XVIII, preconiza o marco inicial da psicofisiologia. Essa disciplina progrediu lentamente até que, em 1929, o cientista alemão Hans Berger inventou a eletroencefalografia, técnica que permite registrar e interpretar as variações elétricas com sede no cérebro, cujos resultados são de utilidade para a medicina e para a cirurgia.
A análise de um Laudo Ambiental elaborado de forma correta por uma equipe multidisciplinar e que utilize também de estudos psicofisiológicos pode, de forma surpreendente, detectar “RISCOS” jamais imagináveis em uma análise cartesiana pessoal.
COMO SE ADQUIRE A LER (ou DORT):
Como a própria designação já diz, as Lesões são causadas pela prática de Esforços Repetitivos, porém, não apenas a repetição dos esforços físicos, mas, principalmente a repetição, tipo e intensidade do estímulo que a vir a provocar uma LER, sem contar a associação psicofisiológica.
-Trabalhos ou funções que exijam movimentos repetitivos.
-Falta de período de descanso durante a jornada de trabalho.
-Mobiliário e equipamento inadequado.
-Repetitividade, excesso de movimentos, falta de flexibilidade de tempo e ritmo,
-Exigência de produtividade,
-ffalta de canais de diálogo entre trabalhadores e empresa,
-Pressão das chefias para manter a produtividade,
-Ambiente inadequado,
-e mais uma série de fatores que devem ser analisados de forma holística pontual.
Hoje se sabe que a má postura, seja na posição sentada ou de pé, principalmente sem descansos programados, pode ser considerada como o fator principal que pode vir a deslanchar uma LER.
CARACTERÍSTICAS DAS LER/DORT:
Nem toda dor corresponde à lesão.
Sua fisiopatologia é relativamente bem conhecida e bem demonstrada.
Ocasiona dor muito forte e costumam vir associadas, uni ou bilaterais.
Inexistência de doença subjacente.
Tratamento geralmente eficaz principalmente nas fases iniciais.
Caráter cumulativo.
Tendência ao agravamento com as recidivas e, muitas vezes. Irreversíveis.
COMO SE PREVENIR OU EVITAR A LER/DORT:
EM PRIMEIRO LUGAR – A CONSCIENTIZAÇÃO
Sim!
Para se evitar a LER/DORT o primeiro passo é a conscientização.
Em qualquer lugar onde estiver é preciso lembrar: minha postura é minha “estrutura”.
Nas pequenas ações, as grandes reações. Nos pequenos descuidos, os grandes prejuízos e com a coluna ou com nossos músculos e esqueleto, pode ser um prejuízo quase que irrecuperável.
Estas doenças são previsíveis e como são consideradas uma doença do trabalho, uma lesão ocupacional, a maior parte da prevenção é feita apenas no local do trabalho esquecendo-se que é FORA do trabalho, principalmente quem mora longe e toma muitas conduções, trabalha ou estuda FORA do trabalho, pode adquirir grandes riscos às LER. Assim a prevenção deve ser para todas as atividades, inclusive de lazer.
No trabalho
A adequação ao posto de trabalho é fundamental adaptando o posto às características biológicas, psicológicas e físicas dos trabalhadores.
A análise ergonômica do seu posto de trabalho é o determinante básico do seu desempenho, sua produtividade, sua saúde, sua qualidade de vida e a qualidade de vida da sua velhice. Isso é muito importante lembrar.
-As pausas são importantes no trabalho, conforme prevê a NR-17, dentro e FORA do trabalho.
-Desenvolver o PCMSO - Programa de Controle Médico e Saúde
Ocupacional previsto pela Norma Regulamentadora número 07 do Ministério do Trabalho.
-Alertar os trabalhadores quanto aos sintomas, incentivando-os a prestar atenção em suas limitações, orientando-os a buscar auxílio médico imediato.
-Propiciar aos médicos que atendem aos trabalhadores um diálogo com a empresa, com o intuito de sugerir mudanças nas características do posto de trabalho, conforme determinam as Normas Técnicas do Ministério do Trabalho.
-Ter atitude de amparo ao trabalhador com LER/DORT, tanto em relação ao tratamento como à reabilitação.
-Ter uma política de prevenção, para que se evite o adoecimento de mais trabalhadores, conforme a NR-07.
-Suprimir as horas extraordinárias.
-Dar todo o suporte para o trabalho das CIPAs, inclusive em sua tarefa legal de analisar as causas de acidente do trabalho.
-Fazer uma análise multidisciplinar do laudo ambeintal
-"ENXERGAR" O PROFISSIONAL
É necessário intervir desde os primeiros estágios de desenvolvimento do quadro clínico, não esperar a instalação e o desenvolvimento de incapacidades permanentes.
Um dos indicadores da existência de problemas em postos de trabalho são as queixas de dor e formigamento, adormecimento, sentidas pelos trabalhadores.
Toda empresa deveria incluir no serviço de saúde e segurança um programa de vigilância de LER/DORT.
Nas pequenas ou médias empresas - como na maioria de nossas categorias - em que não se dispõe de pessoal especializado, podem-se formar pequenos grupos de pessoas interessadas no assunto, contratando-se depois assessores.
Esses grupos seriam formados por profissionais ligados à saúde, segurança, relações humanas e os trabalhadores envolvidos no sistema.
Aprenderiam a detectar os fatores de risco e realizar projetos de melhoria dos postos de trabalho.
A prevenção de LER/DORT deve pressupor mudanças que atingem o modo de se trabalhar, as relações entre colegas, as relações com a chefia, a organização do trabalho.
Assim, prevenção de LER/DORT não é sinônimo de mera troca de mobiliário.
Em casa, no lazer, na escola e em qualquer lugar:
Evitar esfregar roupas repetidamente;
Evitar torcer roupas pelo método comum utilize as palmas das mãos ou o cano da torneira, rodando as pontas das roupas;
Evitar segurar as panelas pelo cabo dê preferência às panelas de alça dupla e segure-as com a ajuda da outra mão;
Procurar não lavar vasilhas e esfregar o chão;
Evitar lustrar móveis, portas;
Utilizar uma escada segura para limpar locais mais altos, evitando forçar os braços;
Colocar os vasilhames em locais de fácil acesso; próximo ao corpo, evitar os locais muito baixo, abaixo de 60 cm do chão e acima dos ombros.
Usar sempre uma escada ao retirar ou colocar um objeto que sem ela, estaria acima dos seus ombros;
Procurar manter o seu corpo na vertical quando estiver lavando vasilhas ou roupas para não prejudicar sua coluna;
Evitar agachar-se muitas vezes ao dia;
Ao limpar o chão, dê preferência a espanador ou vassoura de cabos mais longos, se possível, usar os MOPs;
Evitar carregar peso como bolsas muito pesadas ou sacolas de compras, utilizar, para isso um carinho;
Evitar segurar na alça superior dos ônibus;
Evitar fazer tricô, crochê e bordados.
MANIFESTAÇÃO CLÍNICA:
ESTÁGIO I: Sensação de peso ou desconforto nos membros, dor localizada que piora com o movimento.
ESTÁGIO II: Dor tolerável, formigamento, piora com a jornada de trabalho, diminuição da produtividade, prognóstico favorável
ESTAGIO III: Dor persistente, formigamento, diminuição de força muscular, perda do controle dos movimentos, queda acentuada da produtividade, prognóstico reservado.
ESTÁGIO IV: Dor forte contínua irradiada para o membro afetado, diminuição de força, diminuição de sensibilidade, incapacidade para executar tarefas no trabalho ou doméstico, deformidades, atrofias, prognóstico sombrio
ESTÁGIO V: Aumento da dor, perda de movimentos, perda total de força, atrofia irreversível, estágio incapacitante.
FINALIZANDO
Os números não são precisos na maioria dos países, mas a prevalência de casos é cada vez maior, contrariando uma expectativa da década de 80, quando se pensou que o trabalho repetitivo e suas repercussões na saúde diminuiriam com o avanço da tecnologia.
Muitos países viveram situações semelhantes a esta vivida pelo Brasil nestes últimos anos, como por exemplo, o Japão na década de 70, países escandinavos e Austrália, na década de 80.
Nos Estados Unidos, por exemplo, há um aumento extremamente
significativo das LER/DORT. Nos EUA, em 1981, foram constatadas 22.600 freqüências da LER, que significava, na época, 18% entre as doenças ocupacionais. Em 1994 foram registradas 332.000 freqüências, o equivalente a 65% das doenças ocupacionais.
No Brasil, é a segunda causa de afastamento do trabalho.
Somente nos últimos cinco anos foram abertas 532.434 CATs (Comunicação de Acidente de Trabalho) geradas pelas LER/DORT sem contar os trabalhadores que pleiteiam na Justiça o reconhecimento do nexo causal, em milhares de ações movidas em todo o País.
A cada 100 trabalhadores na região Sudeste, por exemplo, um é portador de Lesões por Esforços Repetitivos.
As LER/DORT atingem o trabalhador no auge de sua produtividade e experiência profissional. Existe maior incidência na faixa etária de 30 a 40 anos, e, as mulheres são as mais atingidas.
De acordo com o exame periódico realizado em 1998 pela Cassi (Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil), 26,2% dos funcionários do Banco do Brasil apresentavam algum sintoma de DORT.
As categorias profissionais que encabeçam as estatísticas são bancários, digitadores, operadores de linha de montagem, operadores de telemarketing, secretárias, jornalistas, entre outros.
Somente no primeiro ano de afastamento do funcionário, as empresas gastam cerca de R$ 89.000,00 (oitenta e nove mil reais), por caso.
A jornalista Maria José O´Neill, que contraiu e estudou a doença, se tornou
uma especialista no assunto afirma: “Não existe um melhor método para se
tratar a LER. É o conjunto de tratamentos - RPG, fisioterapia, acupuntura,
hidroterapia - que faz o quadro clínico da LER regredir. Dentro da ortopedia a
metodologia mais indicada seria a fisioterapia, mesoterapia - técnica de injetar
nos tecidos subcutâneos antiinflamatórios, relaxantes musculares, misturados
com algum analgésico. E a RPG - Reeducação da Postura Global: fisioterapia
baseada em exercícios de alongamento.”
Nossas categorias são formadas por 60% de mulheres.
Maria José O´Neill fala da feminilização do risco da LER/DORT:
“As mulheres têm dupla jornada de trabalho, são perfeccionistas. Por exemplo, um caixa de banco e uma bancária com o mesmo posto de trabalho, se derem diferença no caixa, o homem manda descontar do seu salário e a mulher prefere ficar até encontrar o erro.”
Em virtude de todas essas abordagens problemáticas e que trazem um grande ônus a toda população mundial, desde 2000, o último dia do mês de fevereiro, é considerado Dia Internacional das Lesões por Esforços Repetitivos (LER), ou Distúrbios Ósteo Musculares Relacionados ao Trabalho (DORT) como são conhecidos, agora, no Brasil. Trata-se de um marco de extrema relevância. É a primeira vez na estória que uma doença profissional (LER) passou a ser considerada como questão de saúde pública mundial.
Uma coisa é certa: a única saída para a chamada epidemia da virada do século está na prevenção, pois sua cura, tratamento e reabilitação são muito demorados, custosos e, quase sempre irreversíveis.
Felizmente, um programa adequado de prevenção com base na Ergonomia de conscientização simples, sem muitos devaneios e muitas elucubrações, pode prevenir de forma significativa todos os problemas.
Célia Wada
Osny Telles Orselli
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